terça-feira, 29 de janeiro de 2008

O outro

"Ele sempre achou que cada vez que ela ia passear o seu cão, não pelo tempo normal, mas por mais curto tempo, que isso se devia à sua vontade de estar com ele… mas, cada pessoa é um mundo e, no fundo, ela fazia-o mais depressa porque era sempre já tarde e, ela preferia passear-se por mais curtas distâncias com medo do que lhe podia acontecer.
Afinal... era apenas ela, e o seu cão já velho".

:-)

2 comentários:

  1. Estou-te esperando, em devaneio, no nosso quarto com duas portas, e sonho-te vindo e no meu sonho entras até mim pela porta da direita; se, quando entras, entras pela porta da esquerda, há já uma diferença entre ti e o meu sonho. Toda a tragédia humana está neste pequeno exemplo de como aqueles com quem pensamos nunca são aqueles em quem pensamos.
    O amor perde identidade na diferença, o que é impossível já na lógica, quanto mais no mundo. O amor quer possuir, quer tornar seu o que tem de ficar fora para ele saber que se torna seu e não é. Amar é entregar-se Quanto maior a entrega, maior o amor. Mas a entrega total entrega também a consciência do outro. O amor maior é por isso a morte, ou o esquecimento, ou na renúncia – os amores todos que são os absurdiandos do amor.

    […]

    O amor quer a posse, mas não sabe o que é a posse. Se eu não sou meu, como serei teu, ou tu minha? Se não possuo o meu próprio ser, como possuirei um ser alheio? Se sou diferente daquele de quem sou idêntico, como serei idêntico daquele de quem sou diferente?
    O amor é um misticismo que quer praticar-se, uma impossibilidade que só é sonhada como devendo ser realizada”.

    Bernardo Soares, O RIO DA POSSE, em O livro do Desassossego, Assírio & Alvim.

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