sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

A hymn to Love

Love is the road to salvation, they say, but sometimes it kills you in the process...

This following text was written hundreds of years ago, I dedicated it to all the reverend fathers who told us to "give the other cheek" and, when we did not comply, forced us into the floor and whipped us until we understood the meaning of Love: obedience to the point of indistinguishability!

Are they saints or are they sinners? The disappearance of the self through utter acceptance... is it not just another face of the ego that tries to transcend just by possessing the possessor?

HE, who we do admire, has such power over us and everything, that by melting away with him, we transcend our own pain and become, become stronger, become him to whom we are enslaved.

Love, oh, LOVE, LOOOOVEEEE, Loooveee, the mystery, the redemption, transcending and beyond, oh!, I am you and you are me, and no difference between us now stands, except...

It's all the same illusive ego, all around, all around...


Este texto foi publicado num jornal há 351 anos atrás e repescado por Foucault para ilustrar um dos seus próprios livros; é dedicado aqui ao Rev. Robert Levermore, personagem que escreve neste blog de quando em vez. É dedicado também a essa Igreja que nos levou aos mais altos picos da espiritualidade, que eu Adoro e com a qual certamente me identifico...

Uma versão mais completa pode encontrar-se aqui.

«A 2 de Março de 1757 Damiens foi condenado a pedir perdão publicamente diante da porta principal da Igreja de Paris, onde lhe foi arrancada carne dos mamilos, braços, coxas e barrigas das pernas com tenazes quentes. A mão direita segurando a faca com que tentou cometer o regicídio foi queimada com enxofre, e às feridas foi aplicado chumbo derretido, óleo fervente, cera e enxofre derretidos conjuntamente, a seguir o seu corpo foi puxado e desmembrado por seis cavalos e seus membros e corpo consumidos ao fogo, reduzidos a cinzas, e suas cinzas lançadas ao vento. […] Os espectadores ficaram todos edificados com a solicitude do cura de Saint-Poul que, a despeito da sua idade avançada, não perdia nenhum momento para o consolar. […] O senhor Le Breton, escrivão, aproximou-se diversas vezes de Damiens para lhe perguntar se tinha algo a dizer. Disse que não; nem é preciso dizer que ele gritava, com cada tortura, da forma como costumamos ver representados os condenados: "Perdão, meu Deus! Perdão, Senhor". […] As cordas tão apertadas pelos homens que puxavam as extremidades faziam-no sofrer dores inexprimíveis. O senhor Le Breton aproximou-se outra vez dele e perguntou-lhe se não queria dizer nada; disse que não. Achegaram-se vários confessores e falaram-lhe demoradamente; beijava conformado o crucifixo que lhe apresentavam; estendia os lábios e dizia sempre: "Perdão, Senhor". »

(adaptado da Gazeta de Amsterdão de 1 de Abril de 1757, in Michel Foucault, Vigiar e Punir)

6 comentários:

  1. Texto provocador, sem dúvida, mas que não me deixa de provocar uma leve náusea ... A rendição a Deus conseguida á custa da tortura, do sadismo e da destruição? A rendição a Deus conseguida á custa da imposição brutal do poder de Roma (os das igrejas Baptistas do sul dos EUA, já agora)?

    Embora me identifique com Cristo e a Sua Mensagem (assim como me identifico com as pessoas e as mensagens de Gautama Buda, Rûmî e Lao-Tsé), cada vez menos me identifico com a Igreja como instituição.

    Tenho plena consciência que, se tivesse nascido na altura em que esse texto foi escrito, teria tido o mesmo destino ou pior logo na mais tenra infância ... Não há nada que irrite mais os supostos "donos da razão" e barómetros da santidade do que uma miuda de língua afiada ...

    Quase todos os padres e pastores das Igrejas Cristãs que conheci me deram a entender que o pior pecado que posso cometer é pura e simplesmente usar a minha cabeça para pensar em vez de aprender de cor o que os outros dizem ...

    Com a excepção de um, o meu querido amigo Padre J., de Brasília, que atingiu um grau superior de entendimento e consciência ao descobrir que sofria da doença de Parkinson, o que o fez começar a questionar todas as regras e restrições da Igreja-instituição e a identificar-se cada vez mais com a Igreja-palavra e Igreja-rebelião.

    Ele e outros que tais como Leonardo Boff e Jean-Yves Leloup, que espero vir a conhecer em pessoa ...

    Como Nietsche, só consigo acreditar num Deus que ria, não de uma maneira sádica da nossa condição humana, mas de uma maneira saudável e brincalhona de todo este jogo infantil que é o Cosmos ... Jogo este que é O Seu próprio Jogo ...

    Deus este que por sua vez há de inspirar a Revolução em que a Anarquista Emma Goldman poderá finalmente dançar ...

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  2. Only the sick mind of a homossexual such as Michel Foucault would transcribe, letter by letter, such gut-wrenching accounts of the errors of the Vatican into a book aimed at the young and impressionable minds of college students ...

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  3. Olá Ana! (não sei quem és, espero que não te importes que me dirija assim a ti...)

    A mim o texto também me provoca náusea (sobretudo o original), mas não deixa de ser verdadeiro.

    No geral concordo com aqueles que dizem que o amor é a escada para o divino, mas também acho que há uma altura em que apetece transcendê-lo. Este texto é um pouco sobre as limitações do amor.

    Vou só detalhar mais um bocadinho: amar X, no sentido em que estou a usar, é ver o Divino em X (ou pelo menos uma pequena parte do divino que ele tem). Ou seja, quando percebemos algo como Divino, Sumamente Belo, Transcendente Luz, etc, isso é amor.

    Como é óbvio, o amor é a porta para o divino precisamente porque é essa capacidade de entrever o divino em tudo, e de grão a grão...

    Na generalidade dos homens parece processar-se por fases. Em muitos casos começa com "ele" é divino, depois passa para o "tu" és divino, e também para aquele hediondo/gracioso: "eu" sou divino (o que em alguns textos aparece como "Eu sou Deus!!" ^_^). Na prática não é bem assim e os três tipos de amor misturam-se a cada momento na generalidade das pessoas de formas extremamente dinâmicas, articuladas e complexas. Por exemplo posso amar um "tu" para vislumbrar amor para um "eu", e todo o tipo de miríades de combinações são possíveis e em geral acontecem (basta olhar).

    Em todos estes casos no entanto, pelo menos é o que me parece, acaba por haver, mais cedo ou mais tarde (talvez ao longo de muitas vidas quem sabe?) uma "desilusão". Desilusão essa provocada por uma certa repressão / conceptualização /objectivação do que é o divino.

    Por exemplo, nas religiões mais comuns "Ele" é o divino e tu e eu somos "pecadores", "infelizes", "iludidos", etc. Ou seja, nós temos de nos negar em nome de algum ideal para descobrirmos uma realidade maior, mais vasta, que se pressente para além dos nossos preconceitos e limitações.

    Isto até é muito giro para aquelas pessoas revoltadas com tudo e que acham que os outros são "maus" e só andam ali para lhes estragar as brincadeiras. Encontram então num "Deus" essa promessa de um mundo possível onde as pessoas podem viver em harmonia. Um vislumbre de Divino nos outros, de alguma forma parcial, também filhos de Deus e, por isso, dignos do nosso amor.

    Depois há o "tu" és divina. Que normalmente se encontra numa relação de amor/paixão. O "tu" és divina tem em geral uma relação difícil com a religião, sobretudo se for daquelas paixões mesmo fortes, pois é difícil conciliar a ideia de que a nossa Deusa é "pecadora" ou tem algo de imperfeito com a ideia de que só "Ele" é perfeito. O mesmo acontece quando se ama duas pessoas: espera, só "Ela" é perfeita, então como é que "Tu" também podes ser perfeita??? ^_^

    Obviamente em todos estes casos as pessoas "desiludem-se" ao fim de esgotarem o alimento da sua ilusão (isto é, depois de terem visto de todos os ângulos o seu amor e de terem confirmado que sim, que é divino, mas nem por isso deixa de haver mais Mundo para ver) - nem o amante é perfeito, nem Deus parece "existir" naquele sentido em que o idealizámos (checklist para fazer amor: casamento - check, utilização de preservativos - ai, os malandros, que fazem coito por prazer, menos um ponto para o Paraíso ^_^, pois...), tudo aquilo em que acreditámos tinha uma base real, mas outra de fantasia!

    Depois há aquele momento em que, abandonando desilusões passadas, nos descobrimos livres, como pássaros cujo único limite é a vontade e capacidade de imaginação e de vogar no infinito. Então "compreendemos" que somos Deuses e Deusas. Mas mais uma vez acabamos por nos desiludir, mais cedo ou mais tarde, porque realmente, é um fraco Deus aquele que nem consegue equilibrar as contas, fazer um texto decente ou acabar com a caspa no cabelo.

    São só desilusões por aí abaixo. Até que chega a superação do amor. Repara que o problema do Amor, ou o limite do Amor, não é propriamente o ver o Divino em Algo. É ver esse Algo como distinto, diferente, à distância. Mesmo aquele que se compreende como Deus continua a imaginar-se num ideal qualquer, (de força, liberdade, acção, eficiência, etc) diferente do que de facto, é. Há sempre uma distância - para haver Amor tem sempre de haver um Amante e um Amado. E quando há uma separação tem de haver sempre cisão / repressão: ou sou eu que quero ser reconhecido pelo outro, ou o outro luta para ser reconhecido por mim, ou nos reconhecemos ambos no frágil e esquivo equilíbrio entre as nossas idealizações e a realidade mutável. Mas há sempre, sempre, uma repressão.

    Daí que em cada Amante haja um Damiens, alguém que pede perdão por ser quem é, alguém que procura a dissolução no outro, mas não a encontra nunca por arrastar consigo sempre a veste do seu eu...

    Ora a superação do Amor dá-se, parece-me (na minha pouquíssima experiência destas coisas, e que não deve servir, longe disso, de modelo a ninguém) na União, na Unidade com X. Sendo o X o transcendente que existe em mim e em ti e em todas as coisas e que faz de tudo Uno. Aí deixa de haver amante e amado, eu desapareço, mas ao desaparecer dou lugar a todas as coisas.

    Sinceramente parece-me que essa Unidade não é útil seja para o que for neste plano, neste Mundo. Certamente não se ganha dinheiro com ela, nem amizades, nem fama ou boas obras, nem se evita as constipações, nem sequer as depressões, nem o que quer que seja. Talvez só um pouco de lucidez, daquela trivial e nada brilhante. Por isso... textos como os meus têm de se vestir de grandes pérolas de lirismo (ou tentar) para dizer o óbvio de maneira que pareça engraçada ou interessante ^_^ ...

    Beijinhos e tudo de bom ^_^

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  4. Uma reflexão interessante, Luar, em escalada depois das desilusões que vão "por aí abaixo" e que desaguam naquela visão panorâmica de amor de tudo com tudo e tudo o mesmo!
    (Ri-me naquela parte da desilusão de nós próprios enquanto Deus, aos constatarmos que não conseguimos "equilibrar as contas, fazer um texto decente ou acabar com a caspa no cabelo"!)

    Envio-te um sms mais tarde para ver então se nos podemos encontrar no inferno para resolver aquele problema.

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  5. Olá Luar,

    Podes me tratar por tu á vontade:-)! Detesto formalidades ... Concordo planamente contigo com essa ideia das desilusões que acarreta o Amor ... Conheço-as muitissimo bem ... A elas e ao facto que o Amor foi colonizado pela lógica de mercado e transformado no jogo do romance, no qual há cotações de vária espécia, tal qual na bolsa de valores ... Jogo este que alimenta a indústria de cosmética, de vestuário, calçado, a cirurgia plástica, as revistas femininas e masculinas, a indústria farmacêutica (Viagras, produtos para aumentar o pênis e tornar a vagina mais elástica, produtos para aumentar a libido, etc., etc.), isto para não falar de sites sociais e de encontro da internet - MySpace, Facebook, Match.com, Meetic, eHarmony, etc ...

    ... o que por sua vez alimenta a sociedade de consumo e o ciclo escravizante de produção ... As carreiras ... Como entre os animaizinhos, todos nós queremos conquistar um pedaço o maior possível de território para atrair o maior número de machos ou fêmeas bem cotados na bolsa de valores do romance ...

    Além disso, a forma como as pessoas se mascaram, se travestem para criar uma "persona" que corresponda a um certo perfil, o que por sua vez é suposto atrair "personas" com o perfil que nós, iludidos, desejamos ...

    Há poucos dias, um grande amigo meu me disse "Ana, os nossos colegas não te conhecem e principalmente os gajos não te entendem ... Tu tanto gostas de Bach, Wagner e Vivaldi como de música tradicional Africana e Indiana, essa música Portuguesa ... como se chama? ... ah, sim, o Fado ... como também gostas de Heavy Metal do mais pesado ... Assim ninguém te consegue definir, classificar, tens de criar e cultivar uma "persona" ..."

    Eu também sei que nenhum Amor terreno se poderá igualar a essa União com o Infinito que há em nós, conseguida em raros momentos sem preço ...

    E para ser muito honesta, prefiro o arrebatamento de um pôr do sol de Verão no Mar Egeu ou no Barlavento Algarvio do que o mais belo e viril dos Amantes terrenos ...

    De certeza que irias gostar do romance "La Confession Anonyme", de Suzanne Lilar, no qual uma mulher de meia-idade atinge a união com o Infinito em sí mesma e descobre que foi feita para amar Deus acima de tudo ao amar, até ao esquecimento de si mesma, um homem de que ela tem plena consciência é cheio de defeitos e está muito longe de ser um Deus ... Através desse processo, ela vai para além do Amor ...

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  6. Olá Ana, mais uma vez! ^_^ Gostei imenso do teu texto, mesmo mesmo! É engraçado como por vezes encontramos pessoas que exprimem as mesmas visões interiores que nos habitam! Concordo em quase tudo com o que dizes, só uma coisa me surpreendeu um pouco, essa desilusão com os amantes terrenos.

    Não sei se gostas de gatos, eu gosto de gatos, cães, cavalos, golfinhos, pandas e por ai fora. Ora há gatinhos mesmo mesmo lindos, mesmo quando estão zangados!! (Os linces então ^_^) Se um gatinho pode ser tão lindo, porque não um humano? Quanto a mim a diferença é nós olharmos para o gato como ele é, sem pedirmos nada em troca, sem estarmos à espera que ele nos compreenda, que esteja lá para nós, que nos sirva de suporte nas horas tristes, etc. Um gato é apenas um gato, pronto, é LINDO! Só isso, como o Mar ou uma Alta Montanha, ou qualquer outra coisa verdadeira. Nós sustemo-nos a nós próprios e só aí quando estamos prontos a partir ou a ficar em cada instante, estaremos prontos para amar. Essa independência, parece-me, faz parte de "ser deus" (que expressão tão esquisita ^_^).

    Mas também acho que nada substitui o transe de estar nos braços pujantes de paixão de quem amamos. Pode o vir o pôr do Sol mais belo... mas pronto, nunca tive jeito para padre, é certo!

    O caminho certo para não encontrar um amante precioso é ir pelo caminho das modas e dos trends. Eu sei que estatisticamente é por onde vai a maioria, mas numericamente sobram muitos, mesmo muitos, imensos, muito mais do que aqueles que poderíamos conhecer numa vida...

    E todos eles trazem um infinito dentro de si, infinita paixão, infinito amor, infinitas surpresas...

    Conheces a Regina Spektor? Senão vê no youtube ou no site last.fm, é uma cantora, um pouco no estilo da Chan (Cat Power) e da Joanna Newsom. Eu adoro estas pessoas assim, vibrantes de vida! Quando as editoras deixam de ter o poder para dizer o que é bom e mau e o que devemos ouvir, são pessoas assim que emergem. Este blog também me parece um oásis nesse sentido, mas há tantos outros oásis!

    resumindo: nunca desistir (nem perder a fé na Beleza transcendente dos homens e das mulheres), Deus não o faria!!! ^_^

    Beijinhos Ana, é um Prazer falar contigo!! ^_^

    PS - eu tenho uma página no myspace!!! ^_^

    http://www.myspace.com/luarazul

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