domingo, 13 de janeiro de 2008

Carta a carta
corta a vida
os fios do destino
revelado aos olhos
chuva lumínia
da bruxa que foste
nos tempos vividos
no susto e na escuridão
das preces
a torre fulminada pelos raios divinos
as ilusões caídas por terra
o mago
deixado
pele de serpente do impossível
no princípio do caminho
doido
depois da morte
na vida
em busca da ignorância
onde ardem os cajados
do peregrino
vazio por dentro
a rufar os tambores de haver mundo
e distracção
sabendo
que a morte de Ulisses
é o estar preso a Ítaca
a terra dos enganos
e rindo
nas margens do estar sem buscar
pó do caminho
e sombra no calor do estio
luar nas noites cravadas
na pele alada dos amantes
brisa ao fim da tarde
e o gume do silêncio
a ferir os tímpanos do tempo
nunca já homem
nem deus
nem sombra acorrentada nos infernos
nem esperança
apenas a inversão de tudo
a diversão do nada
na dança de ser
a escuta que se desgarra

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