quinta-feira, 3 de janeiro de 2008
Não tenhas medo meu bem, as tempestades são só uma brincadeira de Deus com a sua própria sombra. Toda a opacidade tem brechas. A espessura da nuvem cinzenta e a ligeira bruma da alvorada são só véus que uma realidade translúcida utiliza para que seja descoberta a sua nudez fulgurante neste jogo de sedução do mundo em que tudo se desvela na mesma medida que se oculta, se disfarça de noite para se dar em alvorada, escapa para se idealizar mais belo do que seria se tivesse sido possuído, em que o belo engana e o sinistro liberta e o monstro se revela o príncipe e o príncipe o monstro no momento em que os beijamos fundo na boca. Por isso sossega meu bem, sossega, não há lugar nenhum onde chegar. Eu sou o teu sonho que de ti anda perdido. Só não me reconheces porque me enganei na cor dos olhos e no traço da silhueta, ou porque falei quando devia calar. Mas deixa, quando me reconheceres estarás de partida num comboio para outro sonho do qual já não participo por este vício do impossível. Mas se, ainda assim e apesar de tudo, conseguires ouvir a genuína música que desta aparência meio enganosa se desprende, terás a vida como um grande palco sem portas nem janelas onde saberás dançar a céu aberto ao ritmo de todas as possibilidades e onde sozinhos ou acompanhados, com a existência de Deus ou sem ela, mascarados de verdade ou de mentira, tudo será especial sem necessidade de nada que o justifique.
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2 comentários:
"(...) em que o belo engana e o sinistro liberta e o monstro se revela o príncipe e o príncipe o monstro no momento em que os beijamos fundo na boca. (...)"
Isto é muito verdade ... Ó se é!
Somos o sonho de sermos e o despertar disso, que não é despertar algum, pois os olhos nunca se fecharam nem abriram. Ter olhos é a nossa cegueira. E tudo isto é terrivelmente belo, amargo e doce, tragicómico !
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