O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


domingo, 6 de janeiro de 2008

Aos Poetas que a fogo, memória de um incêndio vestal, esculpem a Alma e a Vida!



Na pedra rígida e austera
aonde o tempo grava a sua
legenda, que ninguém altera, eu quero:_ Este homem sem lua
vivendo do império ou signo desígnio
o seu imaginário Sonhou. Não tendo um ideário
ideou, como seu epígono
um ser humano e onde o astral se expanda
natural, qual a mão que cose
o pano, ou carne, a pontos naturais.

Isso bastou para a lama ser-lhe vela panda
d'um barco, lépido, singrando
o mar, aonde, num sangrar,
as ideias sejam Ideais
reincarnando.

Na sua carne, assim, ele creu
(e crer é já humanizar à Deusa
sua alquimia imarcescível
d'onde escoa o escuro da gnose)
ter naturalizado o mar,
chamando-lhe _ "Eu"
e, n'alma, Orfeu,
ânima da matéria em narcose
de novo endeuse em natureza
divina mas sensível
E crer n'alguma coisa, seja no que for
é já do seu mistério ver-se confessor;
olhar e ver
é já fixar de certo modo o seu não-ser.

António de Navarro

3 comentários:

Anónimo disse...

António de Navarro publicado por uma ninfa em fusão meditativa !... Que surpresas este blogue encerra !... Que Alma aqui se esculpe, que não-ser, magikamente, aqui se fixa ?

apsarasamadhi disse...

Quando a Lua cumpre o seu ciclo, tornando-se invisível,
rompem silvos de luz na pele
a morder os céus _ Alma
a despir-se do indecifrável cadáver. Não se fixa...antes vibra e dança!

Anónimo disse...

Dança !?
No papel, no écran, no teclado
ou sobre o amotinado cadáver
despida
de si e da própria dança !?